terça-feira, junho 29, 2004

Não te pertenço

Sem razão, te pertenço
É o corpo que pede o seu continuamente
Os olhos devem vê-lo para não secarem
Cegos de saudade

A língua caça uma outra dentro da boca,
em vão!
Seios eriçados
Respiração travada
Sexo úmido, quente, lateja
Pés retesados
fissura...

Já a razão te repele
Ordena dicotomias

para causar colapso

Obriga desejar -
céu e terra
mar e ar
liberdade e cárcere

E passo a não pertencer a ninguém -
só à loucura, à imprudência e ao caos

quinta-feira, junho 17, 2004

Medo de mim

Confinada há tanto tempo
Que a perspectiva de liberdade já apavora
Se fosse um pouco menos sã
Estaria bem mais feliz

Poderia pensar que agora
Faria melhores escolhas
Melhores julgamentos
Ofereceria a parte certa de mim

Não o todo

por não ver a diferença.

É provável que nesse instante
não esteja diferenciando
desesperança de desespero
pavor de apatia
opção de imposição
e tantos outro equívocos...

segunda-feira, junho 07, 2004

Olhos castanhos

Não quero ser salva deste naufrágio
Desta vez. Quero conseguir permitir-me
ser inundada por teus fluidos
tomada por tudo que é teu

Tua voz, teu gosto, teu cheiro, teus dedos, teu sexo delicado

Aceitá-lo sem antes decifrá-lo
Permitir-me ser surpreendida -
por tua curva lombar perfeita,
pela temperatura reconfortante da tua saliva;
teus pêlos, por teus gestos abusados...

Ser capaz de sentí-lo no ar,
na ponta da língua, por toda pele,
nos tecidos que te envolveram...

Ter tua figura tatuada na retina
Sugar tua alma - cortante de tão pura
Sorver na fonte, teu néctar quente

Nausear de você

Ser mortalmente contaminada

Sucumbir

Finalmente repousar
Submersa
em teus profundos olhos castanhos.