sábado, dezembro 02, 2006

Queimar os navios


do site http://aaldeia.net

Contam que Pizarro, o conquistador espanhol, pouco depois de desembarcar na América do Sul com os seus homens, mandou queimar os navios que os tinham levado até lá.

Estranha atitude, que poucos se teriam atrevido a tomar, pois havia um oceano a atravessar para regressarem a casa. Mas a verdade é que também não foram muitos aqueles que deixaram o seu nome na História por terem realizado feitos notáveis...

É certo que podemos criticar as conquistas de Pizarro e a forma como as realizou, mas este gesto concreto é, sem dúvida, valioso.

Conhecia a extrema dificuldade da tarefa que perseguiam. Sabia que viriam perigos incontáveis, terrores, mortes, doenças. Temia o desconhecido, que se afigurava pavoroso. Conhecia os seus homens e conhecia-se a si mesmo. Receava que - depois de uma derrota, perante o desânimo provocado por algum obstáculo aparentemente intransponível - pensassem apenas na forma mais rápida de chegar de novo à costa, entrar nos barcos e regressar a casa.

Mas não admitia outra coisa senão cumprir o objetivo. Cortou a retirada. E os navios arderam. O único caminho, a partir de então, era em frente e até ao fim. E conseguiu.

Portas abertas, pontes, laços... regressos...Não há razão que justifique a batalha se a fuga é fácil. Ás vezes não é questão de coragem, é acomodação... é letargia, preguiça mesmo. E assim vai se empurrando o fardo da vida, como se VIVER atrapalhasse seus reais objetivos. E quais seriam? Oh, pergunta encantada!

Mas se há quem não admite outra solução que não o desafio da "vanguarda", esses são os que evoluem. Todas as coisas grandes e duradouras que até hoje se fizeram envolveram um ato semelhante a este do conquistador espanhol. Envolveram a decisão de fechar as portas à possibilidade de bater em retirada. Resultaram de decisões que se mantiveram fortes ao longo do tempo, perante a dor e o sofrimento e as dificuldades mais sérias.

Hoje quase não somos capazes de nos abandonarmos ao amor. Não somos capazes de um amor que seja inquebrável. Dizemos "quero-te para sempre" - e somos sinceros - mas não somos capazes de manter o amor e a palavra que dissemos. Tornámo-nos moles. Somos caricaturas de homens e de mulheres, porque temos pouco de vontade forte, de liberdade verdadeira.

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