terça-feira, novembro 21, 2006

A que horas passa o trem?

... às vezes sou vilã, outras vítima, na mesma história. Vi viver alguém com tanta apatia, tanta falta de sentido. Esse alguém cumpria sua função de viver sem esperar que isso lhe oferecesse qualquer recompensa.
Ele sufocava a todos junto ao seu túmulo aberto. A todos. A mim inclusive.

Cheguei a lembrar-me de mim como se se tratasse de outra pessoa. Como uma lembrança de um ídolo - aquela pessoa forte, vibrante que existia e partiu - não morreu. Parece ter saído para alguma viagem, para um lugar que desconheço.

Volta e meia, manda pequenos cartões-postais com imagens das paisagens que jamais verei. Perdi o trem. Perdi a bagagem. Perdi a passagem. O que sobrou para mim foi alguém também sem documentos, sem identidade. Sou um ser das sombras, sem brilho, sem luz, sem forças, sem razão de ser. Não brilho e não faço brilhar ninguém.

Fico parada esperando aquele ídolo voltar, ficar presente, me fazer companhia, me ensinar as novidades do mundo afora. Pegar-me pela mão e me levar para tomar sol, sentir verdadeiramente o cheiro, o gosto, os tons do mundo. E ela não vem. E se viesse, poderia enxergar-me?"

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