sexta-feira, agosto 17, 2007

Sobre quimeras


Sic transit gloria mundi! Poucos não terão até hoje ouvido ou lido em algum lugar essa sentença verdadeira e terrível pela própria veracidade. A expressão tem seu uso mais comum para ressaltar a nossa efêmera existência, mas resulta de um ritual bastante utilizado na coroação de papas: diante do recém-eleito, o mestre de cerimônias coloca um pedaço de estopa ao qual se ateia fogo; enquanto as palavras são pronunciadas, o pano é rapidamente consumido pelas chamas.

Poder e glória, quando assumidos com empáfia ou insolência, quando sinais de soberba e petulância egoísta são, de fato, passageiros. Uma glória assim é pura fantasia ou simples quimera. Essa palavra tem origem no grego – khimaira – que significa mais exatamente cabra – mas que se tornou sinônimo de ilusão ou coisa inexistente.

É curioso como até o nosso calendário, agora chamado de comum ou gregoriano (por conta do Papa Gregório XIII), é afetado pela arrogância daqueles que pretendem garantir fugazmente a imortalidade e se apegam à glória do mundo.

Até o séc. 8 AC, o ano do mundo romano da Antiguidade – do qual herdamos essas medidas – tinha apenas dez meses e se iniciava em 1° de março (martius), depois vinha aprilis, maius, iunius e, a partir daí, foram usados numerais (de 5 a 10) para denominar os meses seguintes ( quinctilis, sextilis, september, october, november e december). No século seguinte, para acertar mais a fixação da contagem com o tempo de duração da volta da Terra em torno do Sol, os romanos introduziram mais dois meses ( januarius e februarius) que ficaram para o final; só que no séc. 1 AC o ditador Júlio César fez nova reordenação, passando janeiro e fevereiro para o início e mantendo doze meses.(Por isso, o mês 9 é sete-mbro, o 10 octo-ber, o 11 nove-mbro, o 12, dez-embro)

Ainda, como Júlio césar, nascido no mês quinctilis, foi assassinado, Marco Antônio, general romano e seguidor daquele, decidiu homenageá-lo, trocando o nome do 5° mês para julius, mantendo 31 dias. Porém, por brigas pela defesa da honra entre Marco Antônio e Otávio, por aquele ter desposado Cleópatra e não Otávia, a guerra foi deflagrada e Marco Antonio, vencido, suicidou-se.

Otavio, ou Otaviano, ganhador, passou a ser chamado Augusto, primeiro imperador de Roma e Grande Pontíficie. Fez trocar o nome sextilis do sexto mês para augustus e para ser maior que julius, determinou 31 dias. Vale dizer que a alternância entre 30/31 foi assim quebrada, exceto por fevereiro, que já na sua instituição ficava apenas com os dias que faltavam para o ciclo completo do Sol.

Quase ninguém sabe dessas histórias. Os meses passam, o tempo com ele e, afinal, como sabiamente escreveu Ari Barroso na canção Risque, “ creia, toda quimera se esfuma, como a brancura da espuma que desmancha na areia...” ”

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(E eu, que aferrada à contagem do tempo fabulo tê-lo para realizar desejos. E o universo se encarrega de mostrar-me que só existe o fio da navalha... esse quase nada chamado agora.)

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