segunda-feira, outubro 22, 2007

Eu amo, tu amas, ele ama...

E eu, "ocupada em ocupar" os espaços das minhas insônias, em visita ao admirável poeta Fabrício Carpinejar (fabriciocarpinejar.blogger.com.br) me deparo com o texto que se segue.

Texto recente, cheirando encomenda... mas não! São só "coincidências".

E fazem poucas horas, matutava algo acerca da capacidade de o amor, quando declarado, canalizar fluidamente todo o universo no rumo certo a seguir.

O QUE EU DIRIA PARA VOCÊS DOIS

Para um casal secreto de namorados de Concórdia, sem coragem de contar o enlace para suas famílias.


O amor é uma loucura para todos, menos para os dois apaixonados.

A solidão de um apaixonado seria insuportável se não houvesse uma testemunha.

Solidão já é difícil, quando acrescida de segredo não tem cura.

Uma solidão sem acesso. Mais grave do que Barreirinhas no Amazonas, onde só se chega de canoa.

A solidão do apaixonado é uma mentira que cria uma nova mentira para proteger a verdade. A verdade está contaminada. Não há como estabelecer a origem. O apaixonado não andará de gangorra. Não há peso. O desejo emagrece o corpo.

Os apaixonados são inoportunos, indecisos, péssimos amigos. Não procure um apaixonado para falar as novidades. Ele reprisa sua língua. Eles passam o dia fazendo nada. Mas é um nada trabalhoso, um nada polido, articulado, um vazio severo que engole o sono. Pensar no outro é um trabalho urgente para entregar na manhã seguinte. São folhas e folhas em branco, lidas linha por linha. Tentar escrever exige mais revisão do que escrever. Tentar falar exige mais voz do que falar.

Não estão interessados em combater o desânimo. Crescem por surtos. Aumentam por sustos. Os apaixonados são extremamente solitários em suas decisões. Eles não têm como contar o que estão sentindo. Inclusive porque são impressões mais do que fatos. Como narrar estremecimentos, silêncios, hesitações, gestos indiretos? Falta coerência, sobra sentido.

Ensaiam uma conversa ao tomar uma xícara de café, mas o barulho da colherinha afasta a coragem. Qualquer barulho que não seja o do corpo incomoda. O apaixonado caça a transparência e encontra a confusão. Repete a conversa pelo esforço de retomar o fio da meada. Não pode explicar o que está acontecendo - nem ele sabe. Ele não esclarece seus lapsos.

Não poderá falar com o pai, não entenderá. Com os irmãos, não entenderão. Com a mãe, não entenderá. Com os amigos, não entenderão. O terapeuta até entende, mas não vale, representa uma opinião profissional e o amor é destinado aos amadores. O apaixonado evita o julgamento.

Vira um menor de idade, quase a pedir autorização para viajar. Cochicha com os cachorros, os travesseiros e os livros. Foge de si pelos fundos da casa. É igual a um biólogo, obrigado a cadastrar o que não estava procurando. O apaixonado é o material não-identificado que vai para a gaveta.

O amor está errado para todos, menos para os dois apaixonados.

2 comentários:

Anônimo disse...

Um e-mail, por mais profundo que seja e mais verdadeiro possível, é um texto não-público e temporal... Reservado à Lixeira em pouco mais de um mês...

Já um post num blog, marca a infinitude de um pensamento, a eternidade de um sentimento ora vivido, a fotografia de um cenário vislumbrado pelo terceiro...

Tudo neste universo está ligado. Você, Carpinejar e o casal de Concórdia tem uma relação muito mais próxima de mim do que todos os "próximos" próximos de mim durante um mês inteiro de convivência.

São gotas de tinta espalhadas no oceano que, separadas, se diluem na plenitude do azul-esverdeado. Mas basta que pelo menos duas dessas gotas se juntem para formar uma obra-prima.

Obrigado. Muito obrigado por fazer essas gotas se juntarem ao menos no seu blog...

Que a infinitude de suas teorias e pensamentos sirvam de fonte de inspiração para todos nós... E que, no fim, vença o amor!

Anônimo disse...

O que seria do apaixonado sem ter você como testemunha... com a sensibilidade da flor e a força do tigre, para entender a extensão do amor do casal de Concórdia.
Lembrarão sempre das palavras, do apoio, da força... mesmo que o medo perdure, mesmo que a coragem continue a se esconder, mesmo que o pai, a mãe, os irmãos nunca os entendam...
Eles continuarão sempre sendo o casal apaixonado de Concórdia....
Obrigada por me fazer repensar em tudo.

Um grande beijo,

Libra....