domingo, outubro 21, 2007

Pulsações do Pensamento


Fui perguntada esta semana qual seria minha religião. A resposta foi rápida porém imprecisa: “- Não tenho religião.” A verdade seria dizer: “- Não tenho Igreja.” Religião, no sentido de religar, unir novamente, esta eu tenho.

Desempenho um “labor-atório” contínuo no sentido de recosturar, dentro do meu entendimento, o tecido da humanidade da qual faço parte, desde o mais próximo e através dele, por toda a humanidade.

Encontro no budismo uma porta em que, quando aberta, sua luz não me ofusca a visão. A filosofia budista é o mais próximo que encontrei até hoje daquilo em que acreditava mas não conhecia o nome.

Hoje me considero uma iniciante nos estudos da Filosofia Budista. E foi em busca da raiz dessa linha de pensamento, que encontrei a história de Sidharta (Buda) e sua base hinduísta. Não será esta mais uma porta na busca do Eu desligado do Todo?

Toda existência é dual. O Yng e o Yang. O Ser e o não-ser. O Todo incorpora o Tudo e o Nada. De modo que respostas definitivas são sempre parciais, apenas contidas neste tempo-espaço.

Quando menina vi alguns monges que caminhavam com um espanador longo varrendo à sua frente toda formiga, todo ser vivo que talvez pudesse ser esmagado pelo seus pés. Percebi que o mal estar provocado pela visão do vaso de flores arrancadas inocentemente pelas ruas por minha mãe ou o engasgo de ver um inseto morto, tinha fundamento no princípio da não-violência e tinha seguidores.

Passou a ser mais confortável (e essa é uma das funções da religião) minha atitude agora nominada. Tinha encontrado minha tribo, meu endereço. Como seres gregários e altamente dependentes, fluímos sempre ao encontro de nossos pares, de idéias afins. O que vem explicar a intenção da pergunta que me foi feita.



Dos Fios da União Tereza Freire


Yoga Sutra poderia ser traduzido, grosso modo, como “Os Fios da União”, uma vez que sutra significa "fio", e Yoga, "união". Yoga é um caminho, uma trilha que vai de um lugar a outro, uma direção que escolhemos tomar, uma maneira de agir, e, consequentemente, um destino, um dharma...


E este dharma busca re-unir o homem ao Divino. E, ao conectar-se com o Divino, ele percebe que é igual a este: eterno e completo.


Fio que conduz o homem pelo labirinto e salva-o dos minotauros da vida. Fio que guia o homem de volta para casa...


Os minotauros seriam os nossos vrttis - padrões de comportamento repetitivos que insistimos em seguir porque nos é mais confortável. Confortável porque conhecido. Enquanto o conhecimento do Ser infinito que somos, pressupõe uma jornada em direção ao completo desconhecido. Ao escuro. Pelo menos é o que pensamos...


No entanto, este que nos parece tão distante é quem realmente somos... Mas tanto tempo passamos distantes que nem mais o reconhecemos. Talvez seja esta a grande charada da vida. Desaprendemos tudo que sabíamos no momento em que nascemos, para que, através da dor causada pela ignorância de nosso real estado de plenitude, queiramos nos re-ligar ao divino que somos.


Yoga é um caminho que possibilita a desidentificação com as flutuações de nossa consciência. Nossos vrttis são muitos: os traumas, as frustrações, as expectativas, as obrigações. Tudo nos leva a passar pela vida pulando de galho em galho como macacos na árvore das nossas emoções, inquietos, famintos, e nem sabemos de que... E deixamos de lado vocações e sonhos para cumprir papéis.


Tantos são os personagens que exercemos que esquecemos que esta vida é apenas uma parte de nossa imensa experiência espiritual. É apenas um dos muitos espetáculos de que participamos. E tudo na base da improvisação. Não há tempo de ensaiar para melhorar esta ou aquela cena, muito menos temos um diretor cuidando para que estejamos perfeitos na estréia. Temos que ser one man show em início de carreira: autores, produtores, diretores e intérpretes de nossas vidas. E ainda temos que saber cantar, dançar, representar e fazer malabares se for preciso...
E o Yoga é o fio que nos guia, um farol que ilumina o oceano de nossas turbulências e permite que encontremos o caminho de volta para casa, para nós mesmos...


E este fio pressupõe atitudes, que nos levam a sermos pessoas melhores, cultivando a não violência, exercendo a verdade, respeitando os outros seres e cuidando de nosso Ser através da prática de asanas, do estudo e da meditação. Cultivando yamas e nyamas, podemos nos aproximar dos outros com muito mais generosidade.


A compaixão é a grande razão para estarmos no mundo, concordam todas as religiões. Escolhemos experienciar a vida na terra para amarmos os outros seres e nos ajudarmos mutuamente.


Mais uma vez o fio... Porque tudo está ligado. Assim como é no macrocosmo, é no microcosmo.
Se a natureza vive em perfeita harmonia, se rios e mares, ventos e chuvas, pedras e flores, sol e lua, convivem respeitosamente e se complementam, assim somos nós. Ou deveríamos ser, não tivéssemos cortado o fio que nos liga aos outros, tão envolvidos pela ignorância quanto nós, tão sedentos de felicidade como nós...


Às vezes vejo gente morando na rua, em caixas de papelão e penso: onde está a minha dignidade se permito que outro igual a mim, perca a sua dignidade desta forma? Cada pessoa que morre de fome e frio é uma parte de mim que morre junto...

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